O pró-forma “bate-papo” do secretário jailton de oliveira, principal figura na estrutura de poder no governo de Fábio Gusmão, foi superficial e carregado de vieses políticos
O secretário de administração, Jailton de Oliveira, foi à Rádio Comunitária Três Pontas FM numa quinta-feira, 22 de abril, para participar como anunciaram numa rede social, de um “bate-papo”. A impressão que podemos ter, é de mais ter ouvido um dirigente partidário, numa disputa, do que um secretário municipal. Tratou ele os assuntos mais de forma comparativa, com perceptíveis vieses políticos, do que realmente explicações técnicas acerca do contexto administrativo e financeiro do município. Aliás, na verdade, de fato, Jailton Oliveira é um dirigente partidário atento as oportunidades. Através de tais benefícios, ao longo dos anos, exerceu cargos e funções nas estruturas governamentais, tanto no estado, quanto no município: Da Cesta do Povo para a diretoria do Hospital Regional de Itarantim, no governo do advogado Paulo Fernandes; passando por uma curta chefia de gabinete na câmara de vereadores e ressurgindo como assessor parlamentar no gabinete do deputado petista Rosemberg Pinto. Durante um período, exerceu a presidência do PT — Partido dos Trabalhadores de Itarantim e, agora, chegou à secretaria municipal de administração, no governo de Fábio Gusmão. Como podemos perceber, é ele uma espécie de privilegiado nas estruturas de poder, porém, com poucas atividades efetivas nas ações de campanhas. Isso demonstra sua capaz habilidade de articulação nos bastidores da política (não duvidem!). Talvez, sua sagacidade política justifique o “bate-papo”, onde pareceu mais um debatedor de seus interesses de poder e menos de um agente público como secretário a dever explicações técnicas sem personalismo.
Apesar de sua atitude um tanto perspicaz, deveria ser o próprio prefeito Fábio Gusmão a fazê-lo. Não pode ser considerado aquele falatório, uma verdade correspondente aos fatos, sem que sejam investigados com mais detalhamento. Pois, quando o secretário se refere aos seus críticos, sendo a câmara de vereadores a principal norteadora e responsável em fiscalizar, debater e divulgar dúvidas, parece não compreender, tratar-se de membros de um poder equivalente à instituição na qual exerce suas atribuições. Com isso, dialeticamente, confiado, deixou parecer pretender acusar os vereadores de serem ilativos acerca das finanças municipais; finanças que têm provocado controvérsias e dúvidas em seus valores contratuais para com os fins de serviços. Pois, ao incorporar o papel de administrador, planejador, guarda livros e porta-voz do governo municipal, vale saber que as observações críticas analíticas em questão não se tratam de individualidades pessoais: se fazem por conta e entorno de funções, atribuições e responsabilidades, a partir de suas ações públicas. É uma prerrogativa democrática.
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Concurso Público
Inicialmente, o secretário falou de uma Ação Popular que impediu a realização de um concurso público no governo do ex-prefeito, Paulo Construção. Ação Popular aquela, movida individualmente por ele. Ele próprio, o anti-herói que pretendia salvar as finanças públicas e, em seguida veio a se tornar secretário municipal, justamente com funções administrativas e financeiras, após uma eleição.
Contratos Questionados
A se notar, folheando papeis, tratou de promover fatos acusatórios contra a gestão anterior, atacando o ex-prefeito Paulo Construção como espelho comparativo para justificar seu “bate-papo”, citando e apresentando números que a ele, indicam irregularidades nas áreas financeiras, estruturais e de serviços. Justamente, áreas que, no atual governo têm sido fortemente fiscalizadas pelos vereadores Hilton Rocha e Graziano de Oliveira Reis (Naninho), que, além de um contrato homologado no valor de R$ 610.999,92 (seiscentos e dez mil, novecentos e noventa e nove reais e noventa e dois centavos), em favor da empresa Alicerce Construtora, Terraplanagem e Locadora Eireli. Ainda, antes do contrato, com dispensas licitatórias, os vereadores apontam e questionam gastos de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) na coleta de lixo, em apenas 90 dias.
Carne
Ao pretender explicar outro processo administrativo de licitação com valor global de R$ 498.435,00 (quatrocentos e noventa e oito mil, quatrocentos e trinta e cinco reais) em favor da Silva e Silva Comércio de Carnes LTDA, pelo período de 12 meses, onde as carnes bovinas ‘in natura’ tipo contrafilé e coxão-mole salgada têm seus valores estabelecidos em R$ 46,00 (quarenta e seis reais) o quilo, o secretário disse falar com muita tranquilidade e propriedade, assumindo para si a responsabilidade, afirmando não haver licitação específica para carne — É, afinal, a Silva e Silva Comércio de Carnes LTDA vende o que? Ao falar que as pessoas colocam da forma que elas querem, com “informações equivocadas e indevidas“, parece não ter calculado os eminentes riscos das palavras, sendo que, as tais informações equivocadas e indevidas a lhe parecer, foram ditas na tribuna pelo presidente da câmara municipal, Zeza Gigante, com as seguintes palavras, “é vergonhoso para os vereadores; é vergonhoso para o povo que ver; e é vergonhoso para o prefeito que vai pagar”. Impassível, mais uma vez, o secretário Jailton Oliveira foi desafiador, dessa vez, colocando em dúvida a palavra do chefe do poder legislativo. Apesar de sua sagacidade para ocupar tantos cargos e funções públicas, talvez não leve em consideração os procedimentos e comportamentos nas relações formais de respeito. Atitudes assim, poderá dificultar a harmonia entre os poderes e, temerosamente, prejudicar futuros entendimentos entre câmara e prefeitura.
Contradições
Ao falar das muitas licitações, sempre, em comparação e acusação ao governo anterior, o secretário porta-voz, apesar da harmonia secretarial que logrou existir, não elucidou a questão relativa ao kit de merenda escolar, tão cobrada pelo vereador Jeferson Moto Taxi. Assim como, também, as razões em não doar o peixe na semana santa. Porém, tratou de se lembrar de seu antes chefe e partidário, o deputado petista Rosemberg Pinto, que segundo ele, “autorizou” um levantamento para possíveis obras no mercado municipal. Não sei quem ficaria mais constrangido com tal autorização: se o governador Rui Costa ou o prefeito Fábio Gusmão, chefes executivos responsáveis em avaliar e autorizar possíveis obras. Talvez, tenha sido um ato falho do secretário, com intensão (in)consciente para lembrar o deputado, que logo estará em campanha, para colher votos junto aos apoiadores do prefeito: apoiadores que, em sua maioria, tem fortes bases ideológicas ‘bolsonaristas’ contrarias ao PT – Partido dos Trabalhadores. É: Como articulador e organizador político do governo, o secretário Jailton Oliveira terá de fazer grandes esforços para submetê-los as linhas esquerdistas. Uma situação, digamos, escalafobética.
Recortes
Quanto a COVID-19, a prefeitura segue orientações universalizadas; as obras da escola no bairro Senhor do Bonfim, é uma questão que dependerá de interesse público e sim, o atual governo precisará estudar o caso; segurança pública é uma matéria delicada que precisaremos observar seu comportamento legal; para o comércio parece não ter um plano estratégico emergencial; prioridade econômica a partir da produção bovina é complexa e o governo realmente precisará de tempo, desde que atenda de forma justa as regiões rurais, sem que privilegie amigos com poder de mando, bem como, também, preste atenção na agricultura familiar.
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Assim, atento as oportunidades e após ocupar muitos cargos em variadas funções nas estruturas de poder, Jailton Oliveira conhece muito bem a prática do jogo para fazer seus lances políticos. O que falou naquele controverso “bate-papo” terá sua comprovação quando os números se equivalerem aos equipamentos e serviços públicos prestados. O secretário apenas cumpriu seu papel de administrador, planejador, guarda livros e porta-voz do governo municipal. Politicamente perspicaz, se nos mostra ser a principal figura na estrutura de poder e, dele poderá percolar seus interesses. Contudo, por assim observar, ainda é cedo e não podemos de maneira precipitada, atribuir ao povo, a responsabilidade dos julgamentos sem conhecer mais profundamente a verdade dos números. Essa é uma obrigação fiscalizatória da câmara de vereadores e técnica do tribunal de contas dos municípios.
Apesar do convencionalismo do secretário, seu “bate-papo” pró-forma aparentou ser superficial com vieses políticos. Por isso, para que o povo tenha juízo de valor, aguardemos um pronunciamento mais detalhado do próprio prefeito. Isso poderá evitar que seu governo se torne prisioneiro de uma fantasia idealizada em likes e comentários vazios de redes sociais, que muitas vezes, apenas expressam interesses individuais sem respaldo da maioria da população. Por fim, em algum momento, o prefeito Fábio Gusmão terá de abandonar o silêncio sorridente para explicar “de forma real” as controvérsias iniciais em sua gestão. Até que isso ocorra, precisaremos estar atentos para exercer o papel de análise crítica correspondente à dinâmica social e política na continuada história.
De São Paulo, 29 de abril do Ano da Graça de 2021, J Rodrigues Vieira, para o ‘site’ Crônicas de Itarantim.