COLUNA] O poder da mediocridade no poder que nos devora
Apesar do ‘corre’ em que me encontro para reaprender andar em meio à multidão da cidade de São Paulo, terminei a leitura do romance, O Homem Sem Qualidades, do escritor austríaco, Robert Musil. Nele, percebi, como muito se tem analisado, o que realmente importa não é evitar a estupidez, sim, dar-lhe uma aparência de poder. Eu entendo a preocupação das pessoas que querem construir algo que realmente interessa em seu ser que só o caráter revela.
Só a liberdade é capaz de tornar os homens mais iguais entre si. Temos de evitar a celebração em louvor a qualquer tipo de farsa. Não nos será mais possível se prostar diante de algo ou alguém, em forma de agradecimento ou admiração, quando esse algo ou alguém se nos revela superficial. Muitos dos que estão em cargos de poder, lamentavelmente, não têm nenhuma noção do dever público em detrimento do todo; nenhum sedimento estrutural, verdadeiramente político. Como medíocres superiores, acreditam que os fins justificam os meios, e se tornam governantes para nos devorar com suas mediocridades.
Como a personagem central da trama, eu também convivo com os mais diversos tipos humanos. Muitos dos quais, medíocres, se dividem em dois rumos: superioridade e inferioridade. O medíocre superior se nos mostra na jactância do poder encarnado, devido a função que ocupa na sociedade; o inferior, se gaba da meritocracia acreditando ser ele mais especial. E somos a maioria de nós, tidos como menos ‘sabidos’, obrigados a acatar. Ficar fora da mediocridade, superior e inferior, é ter poucas oportunidades no poder que nos devora. O que importa ter boas ideias? Na esquina mais próxima, outras custam mais barato e faz o mesmo efeito para os medíocres superiores e inferiores.
Em homenagem ao O Homem Sem Qualidades, escrevo:
Para tudo que nos abate,
Nada mais cruel do que a fome
Que em nosso espírito crítico bate.
De São Paulo, 18 de março do Ano da Graça de 2021, J Rodrigues Vieira, para o ‘site’ Crônicas de Itarantim.