Há exatos 20 anos, quatro servidores públicos do Ministério do Trabalho e Emprego foram fuzilados no Noroeste de Minas Gerais durante uma fiscalização em fazendas da região no que ficou conhecida como a Chacina de Unaí. Apesar de os envolvidos terem sido condenados, ainda há dois foragidos.
E um dos mandantes, o ex-prefeito Antério Mânica, foi preso apenas em setembro passado, após uma espera de mais de 19 anos, graças aos recursos protelatórios e idas e vindas do processo. Os auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira realizavam uma fiscalização rural de rotina em fazendas de feijão quando foram mortos em 28 de janeiro de 2004.
Os irmãos Antério e Norberto Mânica, que estão entre os maiores produtores rurais do país, foram apontados como os mandantes pela Polícia Federal seis meses depois. Entre os que orquestraram a chacina, os empresários cerealistas Hugo Alves Pimenta foi condenado a 46 anos, 3 meses e 27 dias de prisão e José Alberto de Castro a 58 anos, dez meses e 15 dias. Norberto Mânica recebeu 65 anos, sete meses e 15 dias e seu irmão, Antério, 64 anos.
Foi apenas em setembro do ano passado, mais de 19 anos após o crime, que a Justiça finalmente determinou a prisão imediata dos últimos condenados pelo caso para o cumprimento da sentença. Antério se entregou, em 16 de setembro. Após ser preso, a 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 6ª Região acolheu recurso do Ministério Público Federal e reformulou a sentença, que passou para 99 anos 11 meses e 4 dias. Seguem foragidos, Norberto e Hugo Alves Pimenta.
Para entender a força política dos Mânica, mesmo após ser vinculado à chacina, Antério foi eleito prefeito de Unaí, em 2004, com 72,37% dos votos válidos. E reeleito em 2008. Em novembro de 2008, chegou a ser um dos condecorados com a Medalha da Ordem do Mérito Legislativo, em cerimônia promovida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Aguardando o processo em liberdade, ele pediu votos à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), em 2022, através de um vídeo que circulou pelas redes sociais.
*A produção do texto com as informações é do colunista da Uol, Leonardo Sakamoto, com edição da redação do site Crônicas de Itarantim.