2 de Julho: Caretas do Mingau celebra o papel das mulheres de Saubara na luta pela Independência
Elas vestiam roupas brancas e estavam sempre em grupos. As mulheres de Saubara, no Recôncavo da Bahia, conhecidas como as “Caretas do Mingau” saiam reunidas pelas madrugadas aterrorizando os soldados oponentes que temiam pelas “assombrações” noturnas. Elas, mais uma vez as mulheres, levaram seu protagonismo para as lutas pela Independência do Brasil, na Bahia, usando a criatividade como principal arma.
Com as vasilhas cheias nas mãos, seguiam fazendo muito barulho no percurso para garantir que o medo dos adversários não permitisse que eles se aproximassem para conferir de quem se tratava. Elas seguiam um trajeto já combinado com os esposos, pais, filhos e amigos que ocupavam as frentes de luta contra os portugueses. Estrategicamente, cumpriam a tarefa e voltavam para casa ao amanhecer.
A professora Viviane Carla Bandeira, historiadora e pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), destaca que a atitude das negras, vendedoras de mingau de Saubara, deu início à maior tradição do município.
“Quando as embarcações dos portugueses chegavam em Saubara, os soldados eram espantados já no desembarque. Essas mulheres se vestiam de branco com um manto branco na cabeça e uma panela de mingau nas mãos. Ficavam ao longo das matas com o objetivo de provocar o temor dos soldados que saíam em fuga, pensando ser algum tipo de assombração”, afirma a pesquisadora dos aspectos raciais e de gênero dos períodos colonial e imperial do Brasil.
Uma das formas de manter essa memória viva é garantir que o cortejo seja preservado, continue ocorrendo tradicionalmente na madrugada entre os dias 1º e 2 de julho. Atualmente, a festa acontece com o desfile das mulheres vestidas de branco pelas ruas de Saubara, distribuindo mingau, bebendo os licores e festejando. Essa é uma das manifestações mais importantes e antigas da região. Não só marca o protagonismo do povo de Saubara nas lutas pela independência, como reconhece a importância da participação feminina nas batalhas.
De acordo com Viviane Carla Bandeira, no ano em que se comemora o Bicentenário da Independência do Brasil, com o olhar para as últimas batalhas ocorridas na Bahia, que culminaram com o Dois de Julho, é fundamental ressaltar que “a participação das mulheres foi intensa. Elas estiveram em frente aos processos históricos e na Independência da Bahia não foi diferente. Atuaram em diferentes localidades do nosso Estado”, lembra ao destacar a importância das anônimas que também são representadas por Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica.
As “Caretas do Mingau”, sua coragem, criatividade e destemor são a representação do povo baiano e brasileiro, que superou as adversidades em nome da defesa do seu território e de sua identidade. “Mulheres da Independência”, elas merecem ser reverenciadas nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. (Bahia.ba).