MEMÓRIA DA RESISTÊNCIA] QUEM SE LEMBRA DO OPERÁRIO AMINTAS, BAIANO DE ITAPETINGA?
O Memorial da Resistência foi instalado para dar lugar a luzes, cores, liberdade de ir e vir e vida, ratificando seu compromisso com a ampla compreensão da memória e da história política do Brasil. Foi instalado justamente no prédio onde funcionou o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops-SP), para onde eram levados os perseguidos políticos no período em que o Brasil foi submetido a uma ditadura militar, promovendo uma forte censura e opressão aos direitos democráticos. Triste período em que tudo era considerado subversivo ou suspeito e duramente reprimido com prisões, torturas e até mortes.
Quando minha filha, Patrícia Bahiana, visitou o Memorial da Resistência, descobriu numa das antigas celas, uma inscrição que cita um cidadão da cidade de Itapetinga, município do médio sudoeste baiano. Tal descoberta, nos motivou a conversar sobre o período. Pois, dias antes, havíamos visitado o Cemitério da Consolação, mais antiga necrópole em funcionamento em São Paulo, e, um dos túmulos que nos chamou atenção, foi o do escritor Monteiro Lobato que, em março de 1941, enquadrado pela Lei de Segurança Nacional, antes de ser encaminhado para Casa de Detenção de São Paulo, naquele prédio, foi fichado e fotografado. Ali, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi preso em 1980, também enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Outros ficaram detidos ou foram interrogados, a exemplo dos também baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Assim, para que possamos saber quem foi o operário Amintas, cidadão da cidade de Itapetinga, município do médio sudoeste baiano, o qual alguém pergunta nas inscrições gravadas nas paredes da cela 3 do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, será uma tarefa para os historiadores dedicados a estudar o passado humano e responsáveis por analisar e interpretar os acontecimentos. Pois, será muito importante sabermos quem é Amintas e o porquê tem seu nome gravado num cubículo onde era amontoado os resistentes que lutaram contra o autoritarismo do regime militar. Esse trabalho de memória poderá ajudar as futuras gerações a evitar a repetição de atrocidades fascistas e projetos que representem os interesses daqueles que, apenas, pretendem usar o aparelho do estado para manter privilégios. Poderá fortalecer a luta por cidadania e direitos humanos em defesa de um país democrático com mais liberdade, mais amor e mais respeito.
*J Rodrigues Vieira é escritor e articulador sociocultural.