Estudiosos do cangaço fazem protesto contra praça que homenageia Corisco e Dadá no interior da Bahia
Do Metro1 – Estudiosos do cangaço na Bahia e a população de Barra do Mendes, a 534 km de Salvador, foram surpreendidos com a notícia de que o município aprovou, com o apoio do governo estadual, a construção de uma praça em homenagem aos cangaceiros Corisco e Dadá.
Famoso por sua crueldade e valentia, Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco (1907-1940), foi um dos mais notórios cangaceiros do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião (1898-1938), que aterrorizou o Sertão nordestino de 1916 até ser assassinado durante uma emboscada em Sergipe.
Corisco raptou Sérgia Ribeiro da Silva, mais conhecida como Dadá (1915-1994), quando ela tinha apenas 12 anos. Posteriormente, Dadá se tornou mulher de Corisco e, com ele, membro do cangaço.
Com investimento de R$ 555 mil do estado, o monumento em homenagem aos cangaceiros está previsto para ser instalado pelo município baiano na fazenda Pulga, local onde o casal travou seu último tiroteio. Na ocasião, Corisco foi abatido e Dadá, ferida, após reagirem à bala, à voz de prisão dada pelo então tenente José Rufino, comandante da patrulha volante da Força Pública do Estado da Bahia, atual Polícia Militar.
“Estamos indignados. A gente acha um contra senso absoluto fazer homenagem a bandido com dinheiro público. A cidade é toda contra. Corisco era estuprador, esquartejou e matou várias pessoas, famílias inteiras. A gente se sente inteiramente arrancado, maltratado. Para cada descendente de vítima, essa dor se reacende quando se faz um desfavor total desse, é uma inversão de valores”, avalia a estudiosa do cangaço na Bahia, Ana Cataldi.
Ana faz parte de um grupo de pesquisa que estuda, há 23 anos, o cangaço na Bahia. Segundo ela, a impressão de cangaceiros como “justiceiros” é uma concepção inadequada da realidade. “Os cangaceiros nunca tiveram uma ação sequer de bondade pontual. Pesquisamos, em 23 anos, em jornais e arquivos da polícia, não tem. Eles roubavam em prol deles, apenas. E roubavam o trabalhador do campo, que tinha uma fazendinha sem proteção, sem jagunço”, explica.
“Faremos um abaixo-assinado porque tem muita adesão. Também fizemos contato com o governo e vamos tentar ser ouvidos para tentar impedir esse absurdo. Pode até fazer um monumento, mas que contemple a todos, com a realidade”, afirma Ana.