Gás caro fazem famílias baianas ultilizarem álcool e carvão
A alta no preço do botijão de gás obrigou famílias em vulnerabilidade social a recorrer ao álcool e carvão para cozinhar em Salvador. Donas de casa relatam que, mesmo com riscos de acidente, este é o meio mais barato para conseguir preparar refeições, que também pesam no orçamento doméstico. Em algumas cidades do estado, o produto é comercializado por R$ 125.
A cozinheira Vera Lúcia está desempregada e conta que já sofreu queimaduras na cabeça, por causa do uso do álcool na cozinha. Ela mora em Granjas Rurais de Pau da Lima, em um imóvel pequeno de três cômodos, e tem renda de R$ 150 mensais, obtidos com com auxílio emergencial do governo federal.
“Quando saí do trabalho, não tive condições de comprar botijão. Ainda mais agora que o [preço do] gás subiu. Se eu comprar o gás, como vou comer? Aí tenho que comprar comida e cozinhar com álcool”, comentou.
Situação semelhante vive Maria Lima, moradora do mesmo bairro. Ela também está desempregada e sobrevive com a venda de ovos produzidos por galinhas, no quintal da casa onde mora. Por mês, detalha, o lucro é de somente cerca de R$ 60.
“Minha vida sempre foi difícil. Se eu contar para você, você vai até chorar. Tudo na vida é arriscado. Mas temos que optar por ele, que é a única fonte que economiza. A fome não espera. O carvão está aí, a gente acende com álcool e tenta cozinhar nele. Mas a fome é pior”, disse a mulher.
O preço do botijão de gás aumentou 7% no mês de outubro. No total, entre janeiro e setembro deste ano, o produto teve reajuste de 80% na capital baiana. Em Salvador, o preço médio é de R$ 100. No interior, porém, a situação é pior.
Em cidades da região oeste, como Luís Eduardo Magalhães, o item é encontrado por R$ 125. Por lá, a venda do item sofreu redução significativa, nos últimos meses.
economista Edísio Freire comenta os impactos do aumento do gás e dos alimentos na vida das pessoas mais pobres.
“Toda conjuntura econômica que envolve o custo de vida, principalmente para quem vive abaixo ou na linha da pobreza, é que está impactando. Aí vem o desemprego, o custo da cesta básica, que aumentou muito todos os setores, o custo logístico. A soma desses fatores é que gera esse cenário”, disse.
A supervisora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ana Georgina, foi além, e classificou como “um desastre” a alta nos preços dos produtos.
“Isso é um desastre. Se a gente olhar a média na Bahia, o botijão de gás já ultrapassa 10% do salário mínimo. Para quem tem orçamento apertado, já é difícil, imagine para quem tem dificuldades de sobreviver”, comentou.