Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021: um dedo na ferida do extremismo e um grito em favor da fraternidade e do diálogo
Todos os anos, a Igreja no Brasil mobiliza todas as comunidades e paróquias a viver, no período da Quaresma, a Campanha da Fraternidade. Esta campanha teve início em 1961, quando três padres que trabalhavam na Cáritas Brasileira, um dos organismos da CNBB, planejaram uma campanha para arrecadar recursos a fim de financiar as atividades assistenciais da instituição. À essa ação, eles batizaram de “Campanha da Fraternidade”. Na Quaresma de 1962 foi realizada pela primeira vez a Campanha da Fraternidade na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.
Devido ao bom êxito da experiência, no ano seguinte 16 dioceses do Nordeste também realizaram a campanha em suas comunidades. Esse projeto foi o embrião para a concepção do projeto da Campanha da Fraternidade que, mais tarde, seria assumida como uma ação da Igreja no Brasil como gesto concreto no período da Quaresma.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) lançaram na quarta-feira feira de cinzas deste ano, dia 17 de fevereiro, a 5ª edição da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE), cujo o tema é Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor e o lema Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2, 14a).
Desde os anos 2000, num período de 5 em 5 anos, a Campanha da Fraternidade acontece numa perspectiva ecumênica. Isto é, mostrando a importância e necessidade, que tais temáticas não são um monopólio de debate/discussão da Igreja católica do Brasil, mas que outros segmentos sejam religiosos ou não podem sim fazer parte desse debate, que é um compromisso de todos e todas. Todos estamos no mesmo barco de uma mar revolto cheio de problemáticas independente de religião ou de ideologias.
Este ano a CFE tem a dimensão Ecumênica visto a importância de refletir este tema em por todas as comunidades, escolas e movimentos, afinal “a escolha por testemunhar a fé vivida em diversidade desafia-nos para realizar a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. Com ela, afirmamos que a fraternidade e o diálogo são compromissos de amor, porque Cristo fez uma unidade daquilo que era dividido” (cf. Texto-base CFE-2021, p.8).
A Campanha da Fraternidade é um patrimônio do povo brasileiro, seja organizada pela CNBB, seja feita de modo ecumênico, como a deste ano 2021. E ela desperta [o debate] justamente porque toca o problema. Põe o dedo na ferida. Precisamos superar a violência pela força do diálogo e com a dimensão cristã dialogando. Contra todo tipo de violência: contra os negros, as mulheres, os LGBTs e, sobretudo, a violência contra a natureza. E [precisamos] fazer do diálogo uma força para aumentar nossa participação no universo da política contra todo tipo de politicagem que venha ameaçar a dignidade da pessoa e, por conseguinte seus direitos/deveres em todas suas dimensões.
O texto-base da CFE 2021 cita, sim, o movimento LGBTQI+ como vítima da intolerância. O Brasil é um dos países que mais matam pessoas transexuais. Vem aumentando o número de feminicídio e também o número de [casos de] violência institucional, militar e civil contra os negros. Por isso o texto-base usa, sim, dados para marcar e apontar a violência que se volta contra as pessoas que são homossexuais, transexuais etc., e também contra as pessoas que são ligadas a movimentos dos direitos humanos.
O Brasil é uma sociedade tremendamente violenta. Não é mais cordial. Predomina a intolerância. Nesse cenário, na política, está a força para criar leis que garantam políticas públicas voltadas para os pobres, contra a pobreza, e pela preservação da natureza. Daí a necessidade de contra-argumento sim, responder a esses críticos. Não podemos admitir ou mesmo vamos deixar passar isso, como se não tivesse acontecendo nada. São atitudes mentirosas, de figuras extremistas que usam as redes sociais para propagar desinformação, bem como sua doutrina falso-moralista travestida de uma hipocrisia farisaica religiosa.
Importante dizer que o objetivo geral da CFE-2021 convida “as comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade” (cf. Texto-base CFE-2021, p.8). Tal objetivo é um desafio em nossa sociedade contemporânea, visto o tamanho da polarização de ideias e a ausência de diálogos, aos quais aprofundam ainda mais os problemas sociais, econômicos, ambientais e de equidade em nosso país. Em que, o testemunho da nossa fé cristã, o compromisso do nosso Batismo é tantas vezes deixado de lado pelo fanatismo ou por uma “verdade” a qual nos cega, em enxergar a realidade, entrando no negacionismo, insensibilidade, indiferença a chegar ao desdém ao sofrimento alheio.
Enfim, nunca uma CF foi tão debatida e difundida como esta, bradam contra a CF, levantam-se contra a CNBB e até mesmo contra o nosso querido Papa Francisco, em nome de um extremismo moralista-religioso, o que na verdade revela uma essência política ideológica desumana. Que não tem o mínimo de consideração pela pessoa humana, vítima de tantas mazelas sociais que desumanizam e excluem, e que estão claramente a serviço de uma agenda neoliberal. E por aqui seguimos na construção do Reino de Deus que começa dentro de nós, em nossas famílias e aos poucos atinge nosso mundo pelo nosso testemunho de fé e prática do Evangelho, que é o próprio Jesus que caminha junto conosco.