Haveremos de nesses tempos agora, tomarmos muito cuidado com a sociedade do espetáculo das redes sociais
Quando se inicia o período das campanhas eleitorais, os partidos se preparam para cumprirem os procedimentos que exigem os tribunais observantes das normas legais do pleito. A partir daí, são escolhidos os candidatos, em convenções, para que suas campanhas sejam levadas ao aval popular. Por assim ser, as campanhas têm datas de começo e término. Após o sufrágio, contabilizados os votos e proclamados os resultados, os eleitos são anunciados.
Outras normas fazem parte do ritual, da diplomação até a posse. Quando no exercício do mandato, se iniciam os governos oficiais, já não são mais permitidos que atos de campanhas eleitorais sejam aplicados no decorrer da administração pública. Isso me faz escrever uma observação sobre o vídeo, (vídeo no final da matéria) publicado num perfil de rede social, atribuído à Prefeitura Municipal de Itarantim, no dia 06 de fevereiro, às 9h06min (https://www.facebook.com/pmi.itarantim.3).
***
Uma instituição pública não pode se propor a ser o anti-herói justiceiro. Essa atitude gera dúvida e põe em risco a credibilidade de suas funções. No caso do vídeo em questão, poderemos identificar algumas informações questionáveis. Ali se anuncia uma mensagem que, deixa parecer, o início de um grande feito municipal através de uma política estabelecida no governo do prefeito Fábio Gusmão — Não pode ser!
Poderiam ter o cuidado de fazer um levantamento da situação antes da publicitação acerca de um projeto que foi iniciado ainda no final dos anos de 1990. Os diálogos de encaminhamento na superintendência de agricultura do governo estadual, foram feitos pelos ex-vereadores Juviniano Antônio (Juju) e Juvenal José Rodrigues (Piri); e o pecuarista Marco Antônio Azevedo, por meio do gabinete do ex-deputado Michel Hagge, que encaminhou uma pauta de propostas para viabilizar os estudos preliminares junto à recém criada APAQUI – Associação dos Produtores de Cachaça Artesanal de Qualidade de Itarantim. O próprio deputado Michel Hagge tratou do assunto. Daquele ponto, outros processos foram estabelecidos para pesquisa, documentação e implantação. Articulações foram feitas, que, infelizmente, apesar da implantação de um núcleo de produção na região do Jundiá, talvez, por consequência de irresponsabilidades, falhas técnicas e desinteresse governamental, não teve o desenvolvimento merecido.
Contudo, o projeto não parou. Em junho de 2010, por iniciativa de um ofício encaminhado pelo líder político do Partido dos Trabalhadores, Kleber Fonseca, o presidente da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Sudic), Nilton Cardoso da Cruz, se reuniu com representantes daquela associação para avaliar a implantação de um galpão multifuncional por meio de um programa do governo estadual, em parceria com a prefeitura e com a APAQUI. Porém, mais uma vez, o projeto não foi adiante por falta de interesse do então prefeito, Gideão Mattos, que parecia não concordar com a atividade produtiva de aguardente. Assim, como podemos observar, ainda que, enfrentando entraves burocráticos, existem articulações, que aliás, Joaci Cunha, agente do CEAS – Centro de Estudos e Ação Social, desenvolve. Bem como, também, a ex-vereadora Darquinha Gusmão trabalha junto ao Território do Médio Sudoeste para que o projeto avance junto aos governos federal e estadual.
Infelizmente, o CNPJ da APAQUI está inapto desde 2018. Lamentavelmente, tenho a impressão de que, ao longo dos anos, a cada governo que inicia suas atividades, setores socias e econômicos fragilizados são utilizados como vitrine para produzir conteúdo publicitários que, ao final, só servem para espetacularização.
No vídeo em analise que tem como ambientes e cenários as regiões da Água Vermelha, Lodo e Jundiá com seus alambiques, as declarações dos produtores, apesar de esperançosas, deixa a parecer para quem não conhece os processos históricos, que de fato, o governo de Fábio Gusmão é realizador de um projeto complexo que depende de estudos, por se tratar não apenas da produção de aguardente, mas, em agregação os derivados da cana-de-açúcar. Como puderam ler acima: Não pode ser! Essa é uma questão que envolve vetores históricos, econômicos e culturais, portanto, não poderá se fazer assim, como parece querer a simplificação da produção publicitária levada ao conhecimento público. Isso por se tratar de um governo estabelecido há 41 dias, sem que, ainda, tenha montado sua estrutura funcional para tratar de assuntos relativos aos interesses da agricultura.
Ainda será preciso muitos estudos e consultas para retomar o projeto e estabelecer conceitos técnicos e burocráticos que viabilizem o reconhecimento junto aos órgãos competentes. Isso será necessário por se tratar de um produto de consumo humano, envolvendo saúde pública. No entanto, o então titular do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, Robson Dantas, no vídeo, faz o seguinte relato, “Nós (sic) da secretaria de agricultura e meio ambiente, estamos trabalhando um programa de apoio aos pequenos agricultores familiar/ levando uma assistência técnica/ apoio para a produção e comercialização de seus produtos/. Seria mais prudente o secretário apresentar qual projeto e quais técnicos serão responsáveis. Eu penso que ele conhece as demandas colegiadas por envolver critérios cuja competência é das agências ligadas ao Ministério da Agricultura. Não é tão simples como possamos querer e fazer.
Robson Dantas que ficou menos de um mês na secretaria municipal, fala no tempo presente. Isso gera um questionamento: será ter havido tempo para proeminente articulação tão complexa? Agora, tendo assumido uma vaga na Câmara de Vereadores, pode ele (ainda no tempo presente) explicar o que pretende a divulgação, um tanto truncada, vazia a parecer inocente motivada pelo emocional (ou não). Estando no exercício parlamentar constitucional no âmbito municipal, creio, que possa avaliar as prerrogativas e explicar aos seus pares, a real intenção daquela publicidade governamental e esclarecer seu aparente enviesamento.
Outro questionamento se deve verificar na publicidade institucional. A publicitação governamental deve ser impessoal baseados em conteúdo de interesse público e caráter informativo. Prestem atenção no filme, caso seja submetido a uma perícia de imagens, mensagens e elementos oficiais, notar-se-á claros indicativos de autopromoção. A peça publicitária exalta um setor governamental (ainda inexistente) sem apresentar nenhuma estratégia funcional para sua realização. Poderiam apresentar os técnicos responsáveis pelos projetos anunciados e quais são seus estudos de conhecimento preliminares.
***
O prefeito precisará acompanhar que tipo de publicidade está sendo feita com o uso da imagem de seu governo. Há de tomar cuidado com os sentimentos pessoais, muitas vezes, intuitivos. Ele não pode se deixar ser convencido a ser o anti-herói justiceiro para sequestrar e deformar a história, sem que, conheça essa mesma história. Caso queira ele, sem tanta exposição indevida, poderá muito ajudar os produtores de aguardente artesanal e derivados da cana-de-açúcar, com políticas objetivas e menos espetacularização de propagandas ancoradas num palanque eletrônico como se fossem grandes iniciativas governamentais. Não pode o prefeito Fábio Gusmão, permitir que, por ventura, os mais vaidosos, entusiasmados com o poder e emocionados lhe querendo ser e aparecer úteis, até de forma ingênua, apenas manter seu governo ancorado numa página digital de fotografias, frases e informações superficiais. Os cenários mudam e as opiniões também…
***
De São Paulo, 11 de fevereiro do Ano da Graça de 2021, J Rodrigues Vieira, para o Crônicas de Itarantim.